Ciclo de Debates revela força do agro brasileiro

quarta-feira, Agosto 26, 2020

Em dez anos, na safra de grãos 2029/30, o Brasil deverá estar colhendo mais de 400 milhões de toneladas, um salto em comparação às 253 milhões que devem ser totalizadas no ciclo 2019/20. A informação, que tem como base um recente estudo realizado pelo consultor de mercado Paulo Cogo, foi comentada pelo presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann, durante o Ciclo de Debates Cocamar na noite de quinta-feira (13/8). 

Desafios e oportunidades - Sob a coordenação do vice-presidente de Negócios da cooperativa, José Cícero Aderaldo, a 8ª edição do Ciclo, que analisou o tema Desafios e Oportunidades do Agronegócio, contou também com a participação do presidente do Conselho de Administração, Luiz Lourenço. 

Brilhante - De acordo com Herrmann, “o futuro do agronegócio brasileiro é brilhante”. O setor vem registrando acréscimos de produtividade a cada ano e o potencial de expansão ainda é considerável. “Neste ano superamos os Estados Unidos em produção de soja”, lembrou, citando que a oleaginosa é a mais importante fonte de proteína vegetal. “A expansão da soja está correlacionada ao crescimento da população mundial, atendendo a uma demanda crescente por alimentos.” 

Evolução - Aderaldo comentou que há duas décadas o Brasil colhia não mais do que 85 milhões de toneladas de grãos e, atualmente, só os volumes de soja e milho, por exemplo, ultrapassaram a marca de 100 milhões de toneladas cada um. 

ILPF - O país conta com mais de 162 milhões de hectares de pastagens, em que a pecuária, na média, não produz mais do que quatro arrobas de carne por hectare, mencionou Luiz Lourenço, pontuando que desse total, segundo a Embrapa, 70 milhões podem ser ocupados por programas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), para produção de soja, milho, carne e outros produtos. “Só a ILPF vai gerar, em um futuro próximo, um grande volume a mais de matérias-primas que vão se transformar em alimentos para o mundo”, comentou. 

Juventude - Para Herrmann, o Brasil apresenta um trunfo a mais na competição com tradicionais países produtores, como os Estados Unidos: os agricultores brasileiros seriam 12 anos mais jovens que seus colegas norte-americanos, em média. E, para dar uma ideia do expressivo aumento da produtividade do agro brasileiro, ele ilustrou que na década de 1970, quando a população rural somava 40 milhões de pessoas, um agricultor produzia em média 1 tonelada de grãos/ano. Atualmente, com apenas 28 milhões de moradores no campo, cada agricultor produz 9 milhões de toneladas de grãos/ano. 

Penetração digital - Conforme destacou, o produtor mais jovem consegue lidar melhor com as tecnologias, sendo que o Brasil leva outra vantagem em comparação aos EUA: mesmo com as grandes dificuldades para acessar a internet no interior brasileiro, a penetração digital já é de 36% aqui, contra 28% entre os produtores norte-americanos. E fez um apelo: “Jovens, olhem para o campo, vocês devem nos ajudar a superar os nossos desafios, que são aumentar a produtividade, a eficiência, melhorar a gestão de custos...” 

Não planejado - Herrmann credita tamanho avanço ao trabalho de pesquisa realizado por instituições como a Embrapa, “a mãe de tudo, que trouxe a ciência”, e também ao empreendedorismo dos produtores que, segundo ele, entraram “com a cara e a coragem”. “Tivemos ao longo das décadas um alinhamento de fatos não planejados, como o surgimento da Embrapa, o plantio direto, o advento da segunda safra, a transgenia, a Lei das Cultivares, o Código Florestal, as grandes inovações tecnológicas. “Uma grande coalização de acontecimentos importantes que faz a diferença no setor.” 

Disrupção - Para o presidente da John Deere, os tempos são de disrupção (descontinuidade), para usar uma palavra da moda. “O desafio está em compreender que o que nos trouxe até aqui não nos levará ao futuro”, disse, salientando que tudo deve se modificar com a pandemia. “Quem imaginava, em janeiro, que no meio do ano estaríamos fazendo lives para nos comunicar, algo que já se tornou comum?.”  

Tema sensível - Sobre como o impacto do desmatamento na distante Amazônia afeta diretamente o produtor do Paraná, Paulo Herrmann fez uma correlação com a pecuária: se uma única vaca, por exemplo, for constatada com febre aftosa no interior do Pará, os mercados internacionais podem se fechar até mesmo para a carne produzida no Rio Grande do Sul, a milhares de quilômetros de distância. Quanto ao desmatamento na Amazônia, ele ressaltou que a grande maioria dos agricultores e pecuaristas brasileiros é cumpridora da lei, mas, como acontece em toda atividade, pode haver também os transgressores, os maus profissionais. “Estima-se que no universo de produtores brasileiros, só 2% não cumprem a lei, mas estes causam um enorme estrago à imagem do agro brasileiro”, disse. Para estes, devem ser aplicados os rigores da lei, “não podemos ficar assumindo a culpa dos outros”. 

Responsável - Para ele, “o agricultor é o ser humano mais responsável social e ambientalmente sustentável, o seu sustento está na preservação dos recursos naturais. Ele sabe que se não cuidar, os recursos vão se exaurir”. 

Mercados - Com o avanço tecnológico, cada consumidor já pode, a partir do seu celular, conhecer a trajetória da produção de um alimento, no supermercado, e saber como o mesmo foi produzido. E ressaltou que os principais mercados para a produção brasileira estão na Ásia, em especial China, Índia, sem falar de Japão, Indonésia, Tailândia, as Coreias e outros. 

Espetáculo - “A sustentabilidade é o assunto do momento”, frisou Luiz Lourenço, destacando que o Paraná foi pioneiro em programas preservacionistas como o plantio direto e as microbacias hidrográficas, além de ter uma das legislações ambientais mais rigorosas. “Esse trabalho tem sido realizado ao longo das décadas e é um espetáculo quando, por exemplo, se olha de cima uma propriedade rural no Paraná, com suas áreas de preservação permanente e matas ciliares”, comentou Lourenço.



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