Produtor é eficiente mas poderia estar faturando mais

segunda-feira, Outubro 19, 2020

Caminho para ter mais rentabilidade é investir na correção da variabilidade do solo, por meio da agricultura de precisão:

A eficiência dos produtores rurais brasileiros é indiscutível.
O mais recente levantamento da safra brasileira de grãos 2019/20, divulgado no último dia 10 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), aponta para um recorde histórico de 257,8 milhões de toneladas. Esse volume é 4,5% ou 11 milhões de toneladas superior ao do ciclo passado, mesmo com os sérios problemas climáticos enfrentados no Rio Grande do Sul. 


Ganho maior - No entanto, segundo a Embrapa Soja, os produtores poderiam ter um ganho ainda maior se investissem em agricultura de precisão.
Equívoco - O pesquisador da instituição, Júlio Franchini, aponta que 90% dos agricultores brasileiros ainda trabalham sem levar em conta a variabilidade nos solos em suas áreas. “Eles aplicam os insumos à taxa fixa, o que é equivocado. Tratam a propriedade como se o solo fosse homogêneo.”
Caminho sem volta - Franchini explica que a agricultura de precisão é um conceito novo que vem quebrar essa barreira, trazendo vários níveis de informações diferentes que descortinam a variabilidade e que a mesma pode ser tratada de uma forma organizada, “para aumentar a produtividade e a rentabilidade”. É um caminho sem volta, em que uma parcela de produtores está saindo na frente. “As máquinas estão gerando informações como mapas de produtividade,  os satélites fornecem imagens georreferenciadas, é possível produzir mapas de compactação e analisar doenças, há todo um campo em desenvolvimento que vai ser atingido pela agricultura de precisão e possibilita conhecimento para que a gente consiga manejar melhor a lavoura e alcançar os nossos objetivos que é produzir com sustentabilidade”, pontua. 

Falta calcário - Outro dado revelador, que limita a rentabilidade: diante de uma característica que pode ser manejada, o que geralmente mais surpreende, segundo o pesquisador, ao observar as lavouras de produtores, é que falta calcário. “Quando você começa a analisar uma área, vê que há uma variabilidade muito grande na acidez por causa da ausência de um insumo muito barato e que tem um impacto grande na produtividade.”

Várias ferramentas - A agricultura de precisão, portanto, consiste de várias ferramentas, resumidas em informações que se obtêm da área de produção, de diversas fontes. Em resumo: um conjunto de informações que, de forma ordenada, permite observar que não existem áreas homogêneas. “Todas elas apresentam variabilidade que precisa ser trabalhada e, muitas vezes, pode ser modificada. Com isso, as que estão produzindo menos, passam a produzir mais, e as que já estão produzindo bem, vão produzir muito mais.”

Variabilidade - Ao analisar um simples mapa de colheita, utilizando imagens de satélite, se observa uma variabilidade muito grande, o que é natural, diz o especialista. Em qualquer área se pode ver que há variação do tipo de solo e isso faz com que a disponibilidade de água, num primeiro momento, também não seja igual. Depois vem a fertilidade, a própria variação do relevo, a declividade, a inclinação, o que mostra como a água se movimenta em um talhão.

Intervenções localizadas - “Tudo isso faz com que o potencial produtivo varie. Nem sempre conseguimos modificar o padrão das áreas, mas na maioria das vezes isso é possível, principalmente quando associado à fertilidade do solo. Quando se faz uma análise, quando se usa uma grade amostral, você consegue ver a variabilidade da fertilidade, a acidez, o teor de nutrientes e fazer intervenções localizadas a fim de diminuir essa variabilidade.” 

Percepção - O pesquisador cita que o produtor, de uma forma geral, conhece a sua área, mas não tem a referência. “Quando ele está colhendo, percebe que a máquina está se comportando de forma diferente. Há lugares em que produz mais, sendo comum até mesmo haver dificuldades para colher devido ao grande volume de produção ali, e também há lugares onde a colheita é mais rala.”

Organizar a informação - O produtor sabe de como funciona a área dele, mas não possui a informação organizada no espaço. Com as ferramentas da agricultura de precisão, se torna capaz de organizar a informação de forma georreferenciada e com isso sabe o que está acontecendo nas diferentes regiões da lavoura. “O primeiro passo é organizar a informação. O segundo, fazer a intervenção”, diz Franchini.

Passo inicial - Quando o produtor começa a gerar o mapa de colheita, ele fica satisfeito porque consegue entender o conhecimento que ele tinha da área, mas agora de uma maneira organizada no espaço. “Saber onde está produzindo mais e onde está produzindo menos é um passo inicial para se trabalhar de forma objetiva, transformar a área e produzir mais.”

Máquinas modernas - Franchini ressalta que “as máquinas estão evoluindo muito hoje em dia na questão da qualidade, estão mais eficientes na colheita e trazendo sensores embarcados. Os sensores é que produzem essas informações. Falamos de colhedoras, pulverizadores, plantadeiras. Temos vários equipamentos que conseguem interferir de forma localizada, fazer o que a gente chama de taxa variável, em que você consegue aplicar fertilizantes e sementes em quantidades diferentes dentro da área.”

No celular - Franchini cita que há também o drone trazendo informações com mais detalhes, ao passo que as imagens de satélite então melhorando cada vez mais. Novos satélites, inclusive, estão sendo colocados em órbita, assegurando mais qualidade e resolução. Com isso, o produtor recebe periodicamente, em seu celular, uma imagem do índice de vegetação da lavoura e acompanha com antecedência a perspectiva de colheita.

Pagando para plantar - Quando o produtor começa a fazer uma correção à taxa variável, obtém um ganho de produtividade importante. Conforme Franchini, um dos pontos que mais chama atenção é quando ele começa a mapear principalmente a colheita. Ao fazer o custo de produção, identifica regiões da sua propriedade nas quais está pagando para plantar, o que se deve a fatores limitantes que drenam rentabilidade.

Usar bem os insumos - “A agricultura de precisão não é uma questão de produzir muito mais e, sim, de usar bem os insumos e aumentar a rentabilidade. No final o que importa é o produtor ganhar mais dinheiro dentro da sua área. Você consegue melhorar a produtividade de uma forma geral e em alguns pontos deixa de pagar para plantar.”

Milho – A respeito disso, um dado alarmante: em 30% das áreas de milho de segunda safra está havendo a retirada de rentabilidade do produtor. “Na verdade, se conseguir entender as informações que levanta da área, o produtor vai ver que há regiões onde precisa investir mais, colocar um híbrido melhor, mais nitrogênio. E, em outras regiões, não poderá utilizar uma tecnologia tão alta porque isto vai ter um custo alto e não vai haver retorno.”

Máximo potencial - Por fim, ao olhar para dentro de uma propriedade, onde há uma variação muito grande do ambiente de produção, se encontra ambientes com menos potencial e também ambientes com potencial maior e que devem ser melhor explorados. “Utilizando a agricultura de precisão, temos as ferramentas para interferir na maioria das vezes nesses fatores que são limitantes. E, aí, buscar o máximo potencial produtivo”, completa. 

- 90% dos produtores brasileiros ainda não levam em conta a variabilidade do solo, trabalhando à taxa fixa;

- Em 30% das áreas de milho de segunda safra está havendo a retirada de rentabilidade do produtor.

- O produtor sabe de como funciona a área dele, mas não possui a informação organizada no espaço. Com as ferramentas da agricultura de precisão, se torna capaz de organizar a informação de forma georreferenciada e com isso sabe o que está acontecendo nas diferentes regiões da lavoura. O primeiro passo é organizar a informação. O segundo, fazer a intervenção.

 

 



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